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sexta-feira, 19 de maio de 2017

2 exercícios de intertextualidade na redação da Unicamp


Ao entrar em um salão na Rua Libero Badaró, em São Paulo, num sábado chuvoso de dezembro de 1917, o jovem poeta não sabia quanto sua vida iria mudar. Aos 24 anos, carpindo o luto pela morte do pai, ocorrida no Carnaval daquele ano, ele era um artista - e um homem - ainda em busca de um estilo. Mulato, disfarçava a cor da pele usando pó de arroz. Indefinido quanto à própria sexualidade, exaltava musas imaginárias numa poesia que seguia, palidamente, a métrica rigorosa do parnasianismo. Inseguro quanto à qualidade dos próprios versos, assinava-os com o pseudónimo de Mário Sobral. Tudo mudaria, no entanto, naquela tarde de dezembro. Ao deparar com quadros vibrantes, de imagens disformes, com cores que não correspondiam à realidade, explodiu numa gargalhada. Que, descobriria mais tarde, não era de escárnio, mas de fascínio. O jovem poeta voltou oito vezes à mostra. Gradativamente, sua poesia passou a ser criativa e estranha como aquelas telas. Começou a assinar seus versos com o nome verdadeiro: Mário de Andrade. E sua misteriosa vida amorosa passou a incluir um caso tão intenso quanto platónico com a protagonista da exposição que mudou sua vida: a pintora Anita Malfatti.
Neste momento entra em cena o terceiro personagem desta história, o escritor José Bento Monteiro Lobato. Recém-chegado à cidade de São Paulo, tentava se estabelecer como escritor e jornalista. Nacionalista convicto, Monteiro Lobato criticava em seus artigos o que chamava de "macaqueação" de estilos estrangeiros. A primeira peça sua a causar grande repercussão foi* justamente a crítica à mostra da pintora, intitulada A Propósito da Exposição Malfatti, que
saiu na edição vespertina de 20 de dezembro de 1917 do jornal O Estado de S. Paulo. O artigo era um manifesto agressivo contra a arte moderna. A repercussão foi tamanha que quadros comprados chegaram a ser devolvidos após a circulação do texto.
A crítica provocou um efeito terrível em Anita. A pintora se retirou da cena artística por dois anos. Há críticos que afirmam que a obra da pintora passou a apresentar traços mais conservadores depois do artigo de Lobato. Esse, depois desse episódio, se tornou cada vez mais Monteiro Lobato - assertivo, polemico, santo padroeiro da literatura infantil brasileira. Já Mário empenhou-se em uma cruzada para devolver Anita ao caminho da modernidade.
A intensa relação entre crítico e artista se estendeu para o plano afetivo: a pintora apaixonou-se por Mário de Andrade. Os dois trocaram uma copiosa correspondência ao longo da vida. Em uma delas, Anita se declarou apaixonada. A fatídica carta, a pedido da própria Anita, foi rasgada. Mas a mensagem seguinte, na qual ela pede a destruição da correspondência anterior, ficou guardada com o escritor. "Cometi um crime de lesa-amizade. Escrevi uma carta sentimental a um amigo. Perdoe-me", ela pede.
Mário passou a vida tentando recolocar a amiga que o amava no "bom caminho" artístico. Empenhado no desenvolvimento de uma arte modernista brasileira, o escritor tomou para si a tarefa de incentivar os colegas artistas a "abrasileirar o Brasil". Foi a exposição de Anita em 1917 que aglutinou os modernistas e preparou o terreno para que Mário cie Andrade idealizasse a Semana de Arte Moderna de 1922.


(BRAVO!, janeiro de 2010, adaptado)



Aponte no texto um exemplo de citação direta e de paráfrase.

Identifique um exemplo de intertextualidade.

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